18 de outubro de 2011

As aventuras de Jill Bolte Taylor

lol Parece nome de filme da Sessão da Tarde.

A neurocientista Jill Bolte Taylor acordou um dia tendo justamente aquilo que mais estudava: um derrame cerebral.Livro de Jill Bolte Taylor
E o mais impressionante: ela se recuperou totalmente e escreveu um livro contando como é estar “naquele mundo” daonde a maioria não volta.

O parágrafo inicial:
“Todo cérebro tem sua história, e esta é a do meu. Há dez anos eu estava na Harvard Medical School realizando pesquisas e lecionando para jovens  profissionais sobre o cérebro humano. Porém, em 10 de dezembro de 1996, eu mesma recebi uma lição. naquela manhã, sofri uma forma rara de derrame no hemisfério esquerdo do cérebro. Uma hemorragia importante, devido à má-formação congênita dos vasos sanguíneos em minha cabeça, aconteceu inesperadamente. No breve espaço de quatro horas, sob um olhar de curiosa neuroanatomista, vi meu cérebro deteriorar-se por completo em sua capacidade de processar informação. No final daquela manhã, eu não conseguia andar, falar, ler, escrever ou lembrar nenhum dado da minha vida. Encolhida, como se voltasse a ser um feto, senti meu espírito render-se à morte, e é certo que em nenhum momento imaginei que seria capaz de dividir minha história com alguém.”

O derrame adormeceu o hemisfério esquerdo do cérebro da Drª. Jill e permitiu que ela percebesse o mundo do ponto de vista exclusivamente do hemisfério direito.

Outros trechos:
“Parece que muitos lidam com regularidade e grande esforço com personagens opostos abrigados dentro do cérebro. De fato, quase todos com quem converso percebem que têm partes conflitantes de personalidade. Muitos falam sobre como a cabeça (hemisfério esquerdo) diz uma coisa, enquanto o coração (hemisfério direito) diz o exato oposto. Alguns distinguem entre o que pensam (hemisfério esquerdo) e o que sentem (hemisfério direito). Outros explicam ter a consciência da mente (hemisfério esquerdo) e a consciência instintiva do corpo (hemisfério direito). Alguns falam sobre a pequena mente-ego (hemisfério esquerdo) comparada à grande mente-ego (hemisfério direito), ou sobre o pequeno eu (hemisfério esquerdo) e o eu interno ou autêntico (hemisfério direito). (…)
“Claro, há mais: existe a mente masculina (hemisfério esquerdo) e a mente feminina (hemisfério direito), a consciência yang (hemisfério esquerdo) e a consciência ying (hemisfério direito). E, se você é fã de Carl Jung, temos a mente sensorial (hemisfério esquerdo) e a mente intuitiva (hemisfério direito), bem como a mente julgadora (hemisfério esquerdo) e a mente perceptiva (hemisfério direito). (…)
“Do âmbito neuroanatômico, tive acesso à experiência de profunda paz interior na consciência do lado direito de minha mente quando as áreas de linguagem e de associação e orientação do hemisfério esquerdo do meu cérebro tornaram-se não funcionais. (…)
“Praticantes de meditação no Tibete e freiras franciscanas foram convidados a meditar ou orar no interior de uma máquina Spect (single photon emission computed tomography, ou tomografia computadorizada por emissão de fóton único). Eles foram instruídos a puxar uma corda de algodão quando atingissem o clímax meditativo ou se sentissem unificados com Deus. Esses experimentos identificaram mudanças na atividade neurológica em regiões muito específicas do cérebro. Primeiro, houve uma redução na atividade dos centros de linguagem do hemisfério esquerdo, resultando em silêncio da conversa interna. Segundo, houve redução da atividade na área de associação e orientação, localizada no giro parietal posterior do hemisfério esquerdo. Essa região do lado esquerdo do cérebro nos ajuda a identificar os limites físicos pessoais. Quando essa área é inibida ou exibe reduzida implementação de nossos sistemas sensoriais, perdemos de vista onde começamos e terminamos com relação ao espaço que nos cerca.
“Graças a essa pesquisa, entendi que faz sentido, do ponto de vista neurológico, que quando meus centros de linguagem do hemisfério esquerdo foram silenciados e minha área de associação e orientação do lado esquerdo foi interrompida com relação ao estímulo sensorial normal, minha consciência de sentir-me como alguém sólido se alterou para outra percepção, e eu me senti então como um ser fluido, uno com o Universo.”


A Drª. Jill recuperou-se totalmente. Analisando as diferenças entre os hemisférios cerebrais, ela convida a todos que usem mais o lado direito do cérebro.

“Minhas duas personalidades hemisféricas não só pensam nas coisas de maneira diferente, mas processam emoções e sustentam meu corpo de maneiras facilmente distinguíveis. Nesse ponto, até meus amigos são capazes de reconhecer quem está entrando na sala pela maneira como sustento os ombros (…)
O lado direito de minha mente trata da riqueza do momento presente. Ele é cheio de gratidão por minha vidae por tudo e todos que existem nela. É contente, cheio de compaixão, protetor e um eterno otimista. Para o personagem do lado direito de minha mente, não há julgamento de bom/mau ou certo/errado, por isso tudo existe em um continuum de relatividade. Ele toma as coisas como são e reconhece o que há no presente. A temperatura é hoje mais baixa que ontem. Não importa. Hoje vai chover. Não faz diferença. Ele pode observar que uma pessoa é mais alta que outra, ou que essa pessoa tem mais dinheiro que aquela, mas essas observações são feitas sem julgamento. Para o lado direito de minha mente, somos todos membros iguais da família humana. Esse lado não percebe ou confere importância a limites territoriais ou artificiais como raça ou religião.”
(…) “Na consciência do lado direito de minha mente, somos todos unidos como a trama universal do potencial humano, e a vida é boa e somos todos belos, exatamente como somos.”
O lado direito de minha mente celebra sua liberdade no Universo e não é cativo do meu passado, nem teme o que o futuro pode ou não trazer.” (…)

Jill Bolte Taylor É impressionante a história de uma mulher que conseguiu se recuperar 100% de um derrame violento, e as lições que a Drª. Jill traz de persistência e auto-disciplina são acompanhadas de várias informações sobre o funcionamento do cérebro e um convite à uma visão de vida mais livre, que abrace à toda a humanidade.

O livro é uma autobiografia imperdível. Muito legal, mesmo.



Uma pena apenas que a editora brasileira tentou tirar uma casquinha do filão de auto-ajuda e ao invés de traduzir o título, adaptou um “A cientista que curou seu próprio cérebro”, e pôs um subtítulo na capa: “O relato da neurocientista que viu a morte de perto, reprogramou sua mente e ensina o que você também pode fazer.” O título original é “My stroke of insight: a brain scientists personal journey”. Mas eu devia usar mais o lado direito do meu cérebro e não me incomodar com estes detalhes, hehehe.

Bem, a Drª. Jill apresentou-se no TED -- uma série de conferências -- e sua apresentação está no Youtube, legendada para a nossa língua. Adquiri o livro depois de assistir esses vídeos. Vejamos:


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